Meus olhos enxergam alguma coisa ao longe. Tento fecha-los, mas não consigo. Percebo então que aquela coisa ali, pouco distante, é uma flecha festejando por saber que eu sou o alvo, o alvo que pra ela será fácil de atingir.
Eu penso em correr, mas meus pés estão adormecidos, minhas
mãos não se levantam e meus braços não conseguem se mover. O que me dá o
direito e a capacidade de movimento parece estar contra mim. Minha boca não se abre
e minha voz não sai. Não consigo pedir ajuda e percebo não ter o direito de ter
as últimas palavras antes do triste fim. Não sinto o calor e também não sinto o
frio, não sinto nada, só o medo. A única coisa que consigo mover são os meus
pensamentos, mas meu cérebro perdeu a autoridade porque o medo o dominou.
A Flecha sai do arco, vem até mim, ela corre, ela para, ela
zomba e continua a sua jornada. Não há nada para que eu faça. Eu sei que é o fim.
O medo me abraça, me prende, segura minhas mãos, meus braços
e minhas pernas, força minhas pálpebras a não se fecharem, mas não me diz nada,
ele apenas me deixa livre com os meus pensamentos.
O medo então abre caminho para a flecha, mas antes de
deixa-la sozinha com seu objetivo, ouço-os conversar. Ele diz a ela que os pensamentos
são a única coisa que não poderá tocar e, respeitando a ordem, ela segue em
direção ao meu coração.
Não senti nada e,
assim como a coragem, o medo também se foi.
Posso agora me movimentar, posso correr, posso pular. Meus
pensamentos me salvaram e todo aquele acontecimento não passa de frívolas
lembranças. Como aquela flecha, sigo caminhando sem sentimento nesse lugar onde
eu posso ser o que quiser. Não existo mais, apenas vivo.
Apenas vivo como uma flecha. Agora eu sou uma flecha!
Apenas vivo como uma flecha. Agora eu sou uma flecha!
